<i>Drones</i> e direitos humanos
As listas de assassinatos são previamente aprovadas
Com Obama na presidência dos EUA os mecanismos da guerra encoberta adquiriram acentuada dimensão na cadeia belicista da grande potência imperialista. O aprofundamento da crise sistémica e o pesado fardo das guerras no Iraque e Afeganistão agravaram o endividamento estadunidense e colocam praticamente como incontornável a redução de fundos do Pentágono. A actualização da estratégia militar dos EUA com maior pendor para as tecnologias da chamada guerra inteligente faz parte dos esforços de readequação para manter incólume a agenda hegemónica dos círculos dirigentes de Washington, a maior ameaça à segurança internacional. Ao seu abrigo, diariamente, aparelhos aéreos não tripulados, vulgarmente conhecidos como drones, disparam furtivamente mísseis sobre «alvos» seleccionados na Ásia Central, Península Arábica, Médio Oriente, Corno e Norte de África. Clamorosa violação do direito internacional e dos princípios da soberania e integridade territorial dos estados em nome do «combate ao terrorismo». As listas de assassinatos são previamente aprovadas ao mais alto nível da liderança norte-americana. Aparelhos Predator e Reaper da CIA e Pentágono comandados a milhares de quilómetros do «teatro de operações» executam as matanças sob o eufemismo de operações militares especiais. Ninguém saberá ao certo o número de vítimas destes ataques de pirataria que ostensivamente não poupam as populações. Mas fontes insuspeitas de anti-americanismo calculam que mais de 3000 seres humanos foram mortos ao longo da última década.
Nada capaz de abalar o coro enfartado de apóstolos do pensamento único e os supremos valores da liberdade, democracia e… direitos humanos.
Mesmo gozando da impunidade dos poderosos e da benevolência da comunicação social é impossível manter na penumbra a utilização do terrorismo de Estado ao mais elevado grau. A ONU abriu um inquérito que levará à apresentação de um relatório na Assembleia Geral. A iniciativa terá partido do Paquistão, Rússia e China. A investigação centra-se em ataques com drones no Afeganistão, Paquistão, Iémen, Somália e Palestina realizados pelos EUA, Reino Unido e Israel. Além da violação dos direitos de soberania, os dados do relatório em curso evidenciam a existência de crimes de guerra que incluem ataques deliberados contra equipas de salvamento e funerais. Não se deve esperar, no entanto, que a investigação da ONU possa conduzir ao apuramento final e cabal de responsabilidades.
Enquanto no centro capitalista aumentam a pobreza e o descontentamento social, a nova doutrina belicista dos EUA favorece cada vez mais a deslocação de contingentes militares especiais e a realização de uma gama de acções tácticas com efeitos profundos, de ordem estratégica. É sintomático que em 2012 o chefe do Comando de Operações Especiais dos EUA tenha proposto montar operações secretas com cadeias de comando flexíveis – com o poder de passar ao lado dos circuitos formais de aprovação no próprio Pentágono – em todo o mundo e designadamente em África, Ásia e América Latina. Simultaneamente, os EUA projectam a capacidade articulada da NATO em zonas nevrálgicas do planeta, indispensáveis à manutenção do domínio dos grandes grupos económico-financeiros e à realização básica do circuito espoliador de apropriação e acumulação capitalistas. Através do eixo transatlântico e o recurso a alianças estratégicas (casos da Austrália e Japão), instala-se o escudo global antimíssil visando anular o poder nuclear dissuasor da Rússia e da China, que os tornaria vulneráveis à ameaça de um ataque demolidor. Ao som dos tambores da guerra, a mancha desestabilizadora do Grande Médio Oriente penetra as fronteiras do Sahel e no coração da Ásia aguarda-se as réplicas da Primavera Árabe.
São sérias as ameaças à paz mundial. Mas nem a barbárie, nem a tentativa de moldar um novo paradigma explorador e repressivo poderão iludir a trajectória decadente do capitalismo e travar o ascenso da luta combinada por um mundo melhor.